Liberté


Eu nunca fui uma admiradora de olhos claros. Não que eu choraria todos os dias se os meus fossem verdes ou que deixaria de te admirar se os seus fossem azuis. Mas é que sempre preferi desvendar os mistérios que um bom par de olhos castanhos guardam.
Se não me engano, demorei algumas semanas pra perceber que os seus olhos, meu amor, são os mais bonitos que os meus já cruzaram nessa vida. Talvez por eles se apequenarem sempre que seu sorriso, largo, resolve aparecer e só se arregale quando você, prepotente, se enche de razão. Talvez porque eles sejam fiéis escudeiros que não entregam, nem sob juramento, seus sentimentos. Ou até por eles serem discretos demais perto dos meus - sempre inquietos, curiosos e confusos. Não sei. De certo, mesmo, só o agradecimento por não ter sido amor à primeira vista.
Os românticos que me perdoem, mas não sabem a delícia que é amar à vigésima quinta. À décima garrafa de cerveja. À sétima dedicação. À quinquagésima troca de sorrisos.
Esses, não sabem o frio que dá na barriga quando um par de olhos castanhos passam a deixar o dia mais azul. Assim, do nada. Em um piscar de olhos. Não sabem como o mundo, meu amor, de repente fica mais bonito, só por vê-lo refletido por esse teu espelho caramelo. 
E é por isso que eu os divido com o resto da humanidade. Eles merecem e precisam conhecer tudo o que há de mais bonito por aí. Vá. Veja as cores desse mundo afora. Mas não se esqueça, meu amor, de voltar. É preciso me lembrar, vez ou outra, de como é maravilhoso viver sob o teu ponto de vista. O mais bonito que já vi nessa vida.


Ei, vem cá. Senta aqui.
Me abraça, quieto, até essa chuva passar.
Eu sei que algumas tempestades escurecem os dias que, lá fora, o sol arde. Mas deixa eu te contar como foi que esses teus olhos me convenceram de que o paraíso é breu. Basta ver meu reflexo assim, castanho meio ruivo, e já quero passar uma vida toda em Marte.
Sabe, às vezes eu até consigo te odiar por mais de um minuto. Tento enfiar na cabeça, resmungando, que essa nossa história mal escrita não merece mais nem um segundo de atenção. Repito quatro vezes, em voz alta, que eu não me importo. Faço um beiço digno de fim de novela das nove e te ignoro com o potencial acumulado por toda uma era.
E aí você me olha com essa carinha, como quem assiste aos fogos do ano novo, me beija e logo transforma todos os filmes de amor em histórias baratas. Me convence, em silêncio, de que esses nossos dilúvios até vão ficar bonitos em meio às sépias dos nossos domingos ensolarados.
Não tem jeito.  Quando o assunto é amor, não há como negar. A caligrafia é feia, mas a nossa história é a poesia mais bonita que eu já li.


Você chegou sem avisar. Entrou quieto, como quem vem só de passagem, e se acomodou. Te acolhi com o velho discurso "não repara na bagunça, não", enquanto tentava me convencer que tudo bem se você fosse embora assim que terminasse o cigarro. E torcia, dia sim e o outro também, para que fosse antes de reparar nos meus medos espalhados pelos cantinhos do chão. 
Com cara de desdém e meia dúzia de palavras bonitas, você foi ficando. Resolveu organizar a bagunça da cabeça e cabeceira, cheias de músicas e bebidas ruins, juntas às noites mal dormidas. 
Fez questão de me acordar, pro dia e pra vida, com esses olhos de quem assiste aos fogos de ano novo. E aí, meu coração já dava um ou dois tropeços. Um sorrisinho, e já me nocauteava o dia inteiro. E é só resolver me beijar, que logo faz qualquer comédia romântica sem graça e sem sal. Sem você.

Sem pedir licença, você chegou dando cor e sabor às minhas páginas que, por tanto tempo, passaram em branco. E eu observava, com olhos de criança, me desfazer o nó feito um laço. Deixei de lado todo o meu arsenal de clichês e não tentei impressionar. Permiti que me conhecesse de verdade. De cara e coração limpos. Sem cartas na manga, sem caras e bocas. Sem mentiras ou maquiagens. 
Eu percebi que tinha algo errado quando você foi embora e choveu o dia inteiro. Nas janelas, escorreram saudades indefinidas. Choveu um pouco dentro de mim, também. Foi assim que decidi te deixar ficar, como se você pedisse. Sabe, é que você sempre traz músicas bonitas, um sorriso de canto e alguns cigarros. 
Juntos, fomos ficando. Sem aviso prévio ou contrato. Assinado apenas por seus olhos tratantes, que me fitam de maneira singular, ao acordar. Você sorri com suspiros e lábios, e logo meu cabelo não parece te assustar. 
Precisei de pouco pra perceber que suas mãos têm a forma exata da minha cintura. Nossos lábios foram moldados um para o outro. Os dedos se entrelaçam com tanta afinidade que, de vez em quando, não parece certo te soltar. Aí, eu logo vi. Te quis e pronto. Troquei meus silêncios por sussurros que admitem que gosto tanto de colar meu corpo no seu, que bordaria minha vida junto a tua, num ponto bem apertado.

Bom dia, docinho! Bem, sei que não é de manhã, mas é que, ultimamente, o sol tem brilhado pra mim a todo instante. E veja só, adivinha quem agora acorda de bom humor todos os dias? Pois é, também me surpreendo como as coisas têm mudado nos últimos tempos. É que deixei tudo que me amargurava pra trás. Não sei se já te contei, mas, na minha vida, tudo que começa muito doce acaba me enjoando. Enojando. Azeda. Aliás, além de muito sem sal, nosso caso fez questão de ser clichê no final.
Quem diria? Baita sem graça. Nem comercial daquela cerveja barata entedia tanto. Aquela foto nem chegou a virar uma sépia e nosso amor desbotou. Tornou-se opaco, fosco. E não me venha você com o discurso de que a "nossa história louca e mal escrita ainda não acabou". Nem se aquele parafuso realmente estivesse faltando, se é que me entende. Sabe, eu já escrevi páginas e páginas, de formas e títulos diferentes, avisando. Já cantei diversos refrões de trilhas e letras que mal saíram do papel. Meu bem, você já sabia que se não cuidasse do amor, ele morreria com a mesma intensidade e rapidez com que nasceu. 
E morreu. Não chorei, não gritei. Não fiquei chateada. Não esperneei. Não bati a porta e nem o pé. Pra quê fazer tanto barulho? Sem você aqui dentro, minha cabeça e meu coração andam tão silenciosos que cansaram dessa melodia merreca. Querem, mesmo, é uma orquestra inteira só pra eles.

Ô, Zé, tive tantas mulheres. Conheci algumas que tinham tudo o que eu sempre quis, sabe? Passei, também, por aquelas fazem cê esquecer todas as outras. Ah, como elas eram boas. Mas tem aquela, Zé, que foge de tudo aquilo que cê já viu. Reparou que tá no singular, né? É que, feliz ou infelizmente, a gente só encontra uma vez na vida. 
 Ela, geralmente, tem o maior medo desse negócio de ser normal, sabe? Cê vai inventar zilhões de desculpas e mil e um defeitos pra tudo dar errado. Ela é muito confusa e ciumenta. Muito quente, indecisa e impaciente. Perdida, sumida e carente. Mas quando ela ri, Zé, daquele jeitinho tão doce, cê imagina teus filhos. Aquele sorriso acalma uma tempestade. Tô falando, aquela mulher é flor, espinho e pedra.
E ela vai. Vai, porque não sente obrigação de ficar. Como quem diz que durou só enquanto tava sendo bom. Zé, você num sabe como é experimentar um abraço sem amor depois dela. Cê vai aprender a amar insultos quando conhecer o silêncio dessa mulher. Vai implorar por algo ruim depois de descobrir o que é incerteza. Você só vai sentir falta quando perceber que a vida, sem ela, fica desbotada e aí, acredite, Zé, cê vai pedir, baixinho, pelos dias de meia-presença. Vai implorar pela demora dela, contanto que ela chegue. 
 Por isso, reza. Reza bastante. Pede para que não apareça ninguém que a faça perder o compasso, Zé. Fala pra ela que ela foi um sonho bom, que mudou o tom da tua vida. Pede pra ela voltar, enquanto há tempo, mesmo que o futuro seja de incerteza e que não haja nada duradouro prescrito pr'essa vida. Toda história de amor é bonita, mas com essa mulher, Zé... Ah, com essa mulher vai ser a tua favorita.

 
Na hora de arrumar o quarto falta ânimo, coragem, pique e tudo o que há direito, né? Por isso, separamos algumas músicas boas e animadas pra te ajudar a encarar essa missão!
 
 

 

E aí?! Esquecemos de alguma? Conta pra gente as músicas que te dão aquele empurrão na hora de organizar o seu cantinho!


Às vezes eu releio nossas mensagens antigas e tento achar o que eu disse de errado. O que você disse de errado. Releio e lembro de como naquele tempo estava tudo bem. Mas saber que você já tinha tudo planejado na mente e eu nem sequer percebi, dói demais. 
Se há seis meses alguém me dissesse que isso aconteceria, eu jamais acreditaria. Você costumava ser tão presente. Costumava ser o meu presente, mesmo naqueles dias em que tudo parecia desabar. E sempre que alguém dizia sentir orgulho de outra pessoa, eu pensava em você, em como eu me orgulhava de quem você era. Da pessoa que você já foi e que hoje me faz a maior falta do mundo. 
Quando eu penso que superei e que sei viver sem te ter por perto, algo me mostra que eu talvez nunca supere. Eu tento me convencer de que as lembranças boas talvez sejam mais fortes do que todas as lágrimas de tristeza que você já me fez chorar. 
Você que era minha maior felicidade e maior motivo de estima, hoje se tornou minha maior saudade e maior motivo de dor quando se aproxima.