Você chegou sem avisar. Entrou quieto, como quem vem só de passagem, e se acomodou. Te acolhi com o velho discurso "não repara na bagunça, não", enquanto tentava me convencer que tudo bem se você fosse embora assim que terminasse o cigarro. E torcia, dia sim e o outro também, para que fosse antes de reparar nos meus medos espalhados pelos cantinhos do chão.
Com cara de desdém e meia dúzia de palavras bonitas, você foi ficando. Resolveu organizar a bagunça da cabeça e cabeceira, cheias de músicas e bebidas ruins, juntas às noites mal dormidas.
Fez questão de me acordar, pro dia e pra vida, com esses olhos de quem assiste aos fogos de ano novo. E aí, meu coração já dava um ou dois tropeços. Um sorrisinho, e já me nocauteava o dia inteiro. E é só resolver me beijar, que logo faz qualquer comédia romântica sem graça e sem sal. Sem você.