Desconfortavelmente confortada

Por: | sábado, outubro 15, 2011 Deixe um comentário
Eu costumo sorrir ao passar pela última esquina antes de chegar na minha casa em dias que começam mal e - com um pouco de sorte, chocolate e uma boa música - que tenho esperança de que não acabem assim.
É aí que me engano.
A sorte falta uma esquina antes de conseguir reverter.
Naquela esquina, naquela calçada. A mesma que nos assistiu tantas vezes e que esqueço que estou sem você. Mas por ironia do dia já péssimo - e da calçada - me lembro.
Foi natural suprir o vazio ao meu lado, naquela calçada, deixado por você. Eu não nasci para ficar acompanhada de ausência e esse raciocínio faz sentido quando estou ao lado dele. Quando estou criando defeitos para você em cima das possíveis qualidades que ele tem, só para deixar bem avisado para o meu interior que existe, sim, felicidade a quilômetros de distância da sua casa. Das suas coisas. Das suas manias e... Daquelas suas músicas. As mesmas que ele possui todos os volumes dos mesmos discos e uma vitrola afiadíssima para me confortar.
Ainda assim, ficamos olhando um para cara do outro e o outro para cara do um, tentando encaixar nossas vidas nas letras e é em vão. Mudamos de disco, e nada. É incompatível.
Me desperta sentimentos bonitos e anima meus sábados, mas não é o bastante. O rg escancarado na carteira só comprova isso, não é o bastante não sendo você.
Mesmo ele torcendo para o mesmo time que eu, comemorando junto após uma vitória, não é o mesmo gosto de assistir o jogo do seu time sem que você saiba, só para poder comentar durante a ligação que você sempre me fazia depois.
Mesmo ele me beijando de dez em dez minutos e me dizendo "eu te amo", o que eu quero, na verdade, são todas aquelas horas de espera por uma brecha. Ninguém olhando, escondido, rápido. Pouco tempo, mas o suficiente para que a semana permanecesse com aquele velho sorriso bobo.
A verdade é que eu sei que estou forçando amor onde não tem. É uma maneira meio feminina de gritar: "Ei, estou aqui. Tentando ser feliz sem você", porque mesmo com o signo dele combinando com o meu, eu gostava mesmo era de viver aquele nosso inferno astral.
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