Cafés quentes e corações frios

Hoje eu acordei tentando ser metade do inteiro que sinto. Saí de casa sem comer nada, porque a manteiga tá no final e isso me lembra que a gente também. É que ele não gosta de margarina.

Dou um gole no expresso sem açúcar, do jeitinho que me ensinou. Repito pra mim, em silêncio, que preciso ser forte. Porque ele vivia dizendo que tenho que encarar o amargo das coisas assim, sem mascarar. Começando pelo café.

As propagandas natalinas estão espalhadas pela cidade inteira e isso me embrulha o estômago. Eu amava quando a gente fugia daquela baboseira familiar pra se ver. Escolhi cuidadosamente, todos os anos, os perfumes que dei de presente, porque amava ainda mais quando o cheiro ficava em mim.

Faço o coque que ele tanto gosta, só pra se... "se" "se" "se". E se a gente se esbarrar por aí? Vai que ele resolve adoçar meu dia me chamando pra tomar um café bem amargo, né? Mas, bem... Quem eu quero enganar? Tudo que tenho é o sol queimando minha nuca. Como quem diz que não tá nem aí se nós dois não assistimos sua chegada juntos, como de costume. O dia vai acontecer mesmo quando não sou acordada por aqueles pés gelados e vai acabar com o barulho ensurdecedor da ligação que ele não me faz.

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