O barulho que nosso silêncio faz

Enquanto você olhava aquele cardápio - que já conhecemos de olhos fechados - eu observava mesa por mesa, casal por casal. À nossa esquerda, um loiro babaca falava, sem parar, coisas que aquela mulher, com sardinhas que a faziam parecer uns dez anos mais jovem, não tinha o menor interesse em saber. Não faltava muito para que ela fosse até o banheiro mandar uma mensagem de texto pra uma amiga: "me tira daqui".

À direita, a outra olhava as migalhas do prato buscando alguma frase que fizesse aquela agonia do silêncio passar. Que entediante. Constrangedor. Ela não aceitaria tão facilmente ser a garota da noite de bocejos e ouvir um "a gente se fala" enquanto fecha a porta do carro dele - pela primeira e última vez.

Olhei pra você e achei o barulho da sua respiração a coisa mais linda do mundo. Como é gostosa a intimidade do silêncio. Quebrar palitinhos e rasgar guardanapos, sem parecer nervosismo.

Sorri e me apaixonei pela tarde que passamos deitados e quietos por horas. É porque não foi falta de assunto, a gente sempre tem o que compartilhar. Mas a gente entende, respeita e conversa com o silêncio do outro. Nosso silêncio tem barulho de carinho, confiança e cumplicidade e cheiro de amor.

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